Imagina uma cidade de interior, com muitas árvores, sem carros, sem asfalto, onde você pode andar tranquilamente pelas ruas sem preocupação alguma. Agora se eu disser que esse lugar existe dentro do Rio de Janeiro, no meio da Bahia de Guanabara, você acredita? Pasmem… estou falando da Ilha de Paquetá…um bairro do Rio com acesso apenas de barco. Um lugar encantador, com muita história para contar e que frequento desde a infância. Um Rio de Janeiro completamente diferente de tudo o que é mostrado para o turista e que vou compartilhar com você, caro leitor. Quer saber mais? Então vem comigo…
Vou começar o artigo falando um pouco da minha memória afetiva com Paquetá. A Paquetá da minha infância que um dia já foi um balneário maravilhoso. Quando eu era criança, nos anos 80 a Baía de Guanabara não era tão poluída e as praias eram verdadeiras piscinas para criançada. Tenho a lembrança de pegar a barca com meus pais em um dia ensolarado, meus pais alugavam uma cabine no Lido (o restaurante existe até hoje!) que tinha chuveiro e armários com cadeado e passava o dia na praia, andando de pedalinho e caiaque, alugava bicicleta para passear pela ilha, era maior barato!!! No final da tarde voltava para casa depois de um dia de total diversão!!! Bons tempos…Hoje não há condição de mergulhar nas águas de Paquetá e realmente pode ser decepcionante para quem um dia já passou por essa experiência e retorna à Paquetá atualmente. Então o meu recado é o seguinte: essa Paquetá não existe mais, nunca mais, infelizmente. O que não significa que a ilha ainda não tenha seus encantos. Muito pelo contrário. O passeio vale muito a pena porém com outro foco. Paquetá é conhecida como a Ilha dos Amores, continua sendo um lugar muito romântico e aconchegante, com lendas apaixonantes e um belo cenário para filmes, novelas e passeios tanto em casal como em família. Um local perfeito para eliminar o estresse e relaxar!!!
Dicas básicas…
(para quem vai a primeira vez ou para quem não vai a muito tempo)
Dica 1: O barato da ilha é passear a pé mesmo ou de bicicleta. Existem várias para alugar (comum, triciclo, quadriciclo). Para quem não tem tanta disposição para pedalar, existe outra alternativa: com o passar dos anos, a ilha evoluiu e o antigo passeio de charrete com tração animal, hoje foi substituído por carrinhos elétricos que fazem o mesmo efeito. Tem também o trenzinho, que funciona como uma espécie de ônibus para os moradores e percorre todos os pontos da ilha. Para mim é o melhor custo/benefício, porém só funciona em dia útil.
Dica 2: fazer um piquenique em Paquetá…me parece uma ótima ideia, lugares charmosos para isso na ilha tem de montão. O Parque Darke Mattos (vou falar a seguir) é uma boa sugestão de lugar perfeito para um piquenique em família ou até mesmo a dois.
Dica 3: não vá no verão, pois é muito calor e não tem como entrar no mar. Se puder escolher passear em um clima mais ameno, é melhor. Contudo, cuidado para não escolher um dia de chuva também, pois a ilha possui chão de terra.
Dica 4: Fique atento com o horário das barcas para você não ter nenhum contratempo, pois esse é o único meio de transporte de entrada e saída da ilha. Ao contrário da barca de Niterói (que passa de hora em hora), a barca de Paquetá possui horários mais restritos e distintos para o fim de semana. Minha dica é se programar quando chegar na ilha. Compre logo seu bilhete de volta para não precisar enfrentar filas na última hora e fique passeando nas redondezas da estação na última meia hora. Assim você evita dor de cabeça.
Como faço para chegar em Paquetá?
Somente de barco. Você pode pegar na estação das barcas na Praça XV(centro do Rio). A barca para Paquetá possui horários específicos e a duração do translado é aproximadamente 45 minutos, que na minha opinião, já é um passeio gostoso de fazer, onde atravessamos a Baía de Guanabara passando por vários pontos interessantes: Ilha Fiscal, Aeroporto Santos Dumont, vista da cidade do Rio com o Pão de Açúcar no fundo, Ponte Rio Niterói (passamos embaixo dela), Ilha do Governador, Niterói, São Gonçalo, vista da Serra Fluminense (Teresópolis – Dedo de Deus). Para mais informações sobre valores de passagem e horários só clicar aqui.
Que tal um pouco de história?
Indios Tamoios: existem algumas teorias bastante discutíveis de que os índios Tamoios foram os primeiros habitantes da ilha. Como não tenho conhecimento histórico sobre o assunto para afirmar se os índios moravam na ilha ou apenas a visitavam em busca de comida, vou me limitar em escrever que existe uma praia na ilha chamada Praia dos Tamoios em homenagem aos índios primitivos que habitavam as terras às margens da Baía da Guanabara.
Família real: D. João VI aportou pela primeira vez em Paquetá para abrigar-se de um temporal e acabou se encantando, passando a visitá-la com frequência. Sempre que vinha, um canhão disparava, saudando sua chegada. O canhão encontra-se lá até hoje na Praça dos Tamoios. Ele ficava hospedado no Solar Del Rei, que na época era propriedade do mercador de escravos Brigadeiro Gonçalves da Fonseca. Hoje o imóvel foi tombado pelo IPHAN e funciona como Biblioteca local. Uma das lendas locais é que o Príncipe Regente curou-se de uma úlcera bebendo água do Poço de São Roque que ficava na cidade e virou devoto do santo, dando origem a tradicional festa de São Roque, padroeiro da ilha.
José Bonifácio: o patriarca da independência morou em Paquetá. Sua casa continua lá. Veja a foto abaixo.
Revolta da Armada (1893): durante a Revolta da Armada, a ilha foi ocupada por seis meses pelos marinheiros subelevados que ocasionou diversos prejuízos para população local.
Pedro Bruno: foi um pintor/paisagista que nasceu em Paquetá. Sua pintura mais famosa foi a “Pátria”, que retratava a bandeira do Brasil sendo bordada no seio de uma família. Ele assumiu o cargo comissionado de zelador do cemitério local, porém sua atuação acabou sendo na ilha toda preservando-a através de vários movimentos que iam desde festas de conscientização da preservação do ambiente até inauguração de praças. Foi erguido um busto dele na praça principal da ilha, próximo a estação das barcas. Outra obra muito famosa foi a criação do cemitério dos pássaros que foi concebido como símbolo de amor à natureza. Hoje o espaço é utilizado pelos moradores para enterrar seus pássaros de estimação. Fica ao lado do cemitério de Paquetá.
Agora vamos as lendas…
Ponte da saudade: João Saudade, era um escravo da nação Bengella que ia para ponte todos dias rezar para reencontrar a família que ficava na África. A ponte fica na Praia José Bonifácio. Pedra dos namorados: diz a lenda que se você jogar três pedrinhas de costas em direção ao topo da pedra, se pelo menos uma não cair no chão seu pedido será realizado.
Árvore Maria Gorda: de origem africana, o baobá com centenas de anos, mede mais de sete metros de circunferência. Claro que esse tipo de natureza jamais poderia passar despercebido que o povo já correu para criar uma simpatia: “Sorte por longo prazo para quem me beija e respeita, mas sete anos de atraso…a cada maldade, a ela feita! ” E você, escolhe o quê?
A lenda da Moreninha: muitas pessoas confundem, mas existe a Lenda da Moreninha e o Romance A Moreninha (livro). A lenda é referente a índia tamoia Ahy que desprezada por seu amor Aoitin, perde a alegria de viver e muito triste começa a chorar sobre um rochedo até formar uma fonte. Por sua vez o índio, antes de dormir na gruta acaba bebendo de suas lágrimas, ouvindo seu canto e se apaixonando por ela. Essa gruta fica dentro da Pedra da Moreninha que dá acesso a praia. Vale a pena visitar pois tem uma paisagem muito bonita servindo de cenário para o romance A Moreninha (livro e novela).
A Pedra da Moreninha: Paquetá foi e continua sendo cenário para várias gravações de novelas e filmes, nos quais podemos citar: Selva de Pedra, Chocolate com Pimenta e a mais famosa delas que foi a Moreninha (1975) onde as filmagens tiveram como cenário a ilha dando fama a alguns pontos turísticos da cidade como a Pedra da Moreninha e a Casa da Moreninha.
O romance A Moreninha, escrito por Joaquim Manoel Macedo, o autor até menciona a lenda da moreninha para explicar a origem da fonte dentro da gruta, mas o enredo do romance conta a história da protagonista Carolina que tinha como apelido “a moreninha” e desenvolve uma história romântica com Augusto.
A Pedra da Moreninha possui uma vista maravilhosa!!! Chegando lá tem uma escadinha e uma ponte onde você tem acesso ao topo da pedra. É possível ver lá de cima uma parte da cidade e avistar a ilha de Brocoió, que pertence ao Governo do Estado, onde somente o prefeito e o governador do Rio tem acesso. Também é legal passar por dentro da pedra e ter acesso a praia local conhecido pela lenda da moreninha.
Parque Darke Mattos
O Parque Darke Mattos fica beirando a orla de Paquetá no final da Praia José Bonifácio, sendo um lugar muito agradável, com muitas árvores, jardins, parquinho, trilhas e um mirante. Um verdadeiro convite para aquele piquenique mencionado no inicio do artigo.
O local foi transformado em parque em 1976 e possui esse nome em homenagem ao último dono da chácara, o industrial Darke Behring de Mattos. A chácara abriga o Morro de Santa Cruz, onde hoje fica o Mirante Boa Vista, dentro do parque. Antigamente, a ilha possuía um forte atrativo econômico através da exploração de seus recursos naturais. Era exatamente nesse morro o local onde os jesuítas realizavam extração de matéria prima para confecção de cerâmicas e porcelanas. Possui uma arquitetura singular, em pedra e a medida que entramos podemos notar as cavernas e túneis que são consequências da exploração local que inclusive reduziu o tamanho físico do morro. Em compensação o mirante possui uma vista deslumbrante da Baía de Guanabara. Nessa mesma chácara, no início do século XX foi fundada uma fábrica de tecidos virando propriedade do industrial Darke Behring de Mattos.
Depois de visitar o parque cheguei a conclusão que é um pedacinho da ilha muito especial, por ser uma área de lazer bem completa. Não cheguei a fazer as trilhas, mas tive a experiência de ver o por do sol de lá e vou confessar uma coisa…é magnífico!!! Cenário para vários momentos e fotos!!!
Onde comer
Paquetá possui não possui muitas opções gastronômicas (poderia ter mais!). Existem alguns comércios bem antigos, da época da minha infância, mas que pararam um pouco no tempo. A ilha poderia desenvolver mais no sentido gastronômico, abrindo lugares mais charmosos, principalmente cafés, afinal, a maior demanda turística seria por lugares para tomar um café, seja da manhã, seja no por do sol. Fica a dica para empreendedores de plantão. Mas dentre as opções que eu encontrei merece destaque dois lugares: A Casa de Noca e o Zeca’s Bar.
A Casa de Noca é uma ótima opção para quem busca um lugar para almoçar. Trata-se de um bistrô que fica dentro de uma casa com quintal, onde logo tem um pequeno anexo com a vitrine de doces e sobremesas e no quintal, o restaurante. Um lugar extremamente agradável e intimista, do jeito que Vanessita gosta! Pratos à la carte, com opções de massas, carnes, risotos e sopas.
Casa de Noca: Rua Pinheiro Freire, 30 – Paquetá.
O Zeca’s Bar possui uma outra proposta. Trata-se de um estabelecimento antigo na ilha, um restaurante/bar que funciona tanto durante o dia como à noite, onde o forte é a comida de buteco. Além da boa comida, o que mais curti foi o atendimento, inclusive do dono do restaurante, um senhor de mais de 80 anos, muito carismático, uma figurinha muito famosa na ilha, muito querido e conhecido por distribuir bala juquinha para as crianças (inclusive ele me perguntou se eu tinha filhos e fez questão de me dar um punhado de bala para entregar para minha filha Alice que estava em casa). O restaurante oferece cardápio variado com música ao vivo aos finais de semana.
Zeca’s Bar: Praça Bom Jesus, 12 – Paquetá.
Claro, que não poderia deixar de mencionar o restaurante do Lido (aquele que mostrei no início do artigo, quando falei das minhas memórias de infância). A comida é bem simples e a um preço justo e o restaurante fica bem localizado na orla da praia (pertinho da Ponte da Saudade e Pedra dos Namorados), Não deixem de notar o balanço velho pendurado na árvore (em frente ao restaurante). Pasmem ele ainda existe! Surpreendente!!!
Restaurante do Lido: Praia José Bonifácio, 77 – Paquetá.
Onde ficar
Se você se encantou com Paquetá e deseja ficar por lá alguns dias, existem algumas opções de pousadas, todas bem simples, dentro da proposta da ilha. Eu que sempre fiz bate-volta, resolvi passar um fim de semana e adorei a experiência. Fiquei hospedada na Pousada Brumar e curti bastante. Fomos recebidos pelos donos, Bruno e Marisa (Brumar) que foram muito atenciosos. A pousada possui uma proposta bem acolhedora e nos tratam como se fossem uma visita, exatamente como o descrito na logomarca: “sua casa fora de casa”. Além disso a pousada possui um conceito ecológico e para quem curte animais como eu isso fica visível, inclusive na decoração. Eu amo gatos e eles circulam pelo quintal livremente. Contudo, eles não tem acesso a área dos aposentos. De qualquer forma, fica a informação, para quem não gosta de animais, fique à vontade de procurar outra opção. Eu amo, então super me identifiquei e com certeza vou retornar outras vezes!!!
Pousada Brumar: Rua Feliciana Borges, 10 – Ilha de Paquetá (contato clique aqui)
Cariocando pela ilha…um roteiro especial
Passar um fim de semana é uma experiência que super recomendo para você, caro leitor. Eu fiz isso e adorei. Mas para quem tem APENAS UM DIA para passear por Paquetá, Dicas da Carioca montou um roteiro bem especial que visita alguns pontos da ilha. Confira o vídeo abaixo.
Bem, essas foram minhas dicas sobre Paquetá. Espero que as informações tenham sido úteis. Aproveito para convidar a uma visita aqui no blog. Tem vários artigos sobre o Rio e redondezas onde compartilho várias dicas de passeios e informações úteis para quem deseja cariocar. Não deixe de visitar nosso canal no You Tube também e aproveitar para se inscrever e acompanhar nosso conteúdo. É um trabalho que faço com muito carinho. Até a próxima, pessoal!
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